Cineastas e arquiteto usavam avião para fazer filmagens; aeronave não podia fazer táxi-aéreo
24/09/2025
(Foto: Reprodução) Vídeo mostra destroços de avião que caiu e matou 4 pessoas no Pantanal
Os dois cineastas e o arquiteto chinês mortos em um acidente aéreo, na terça-feira (23), usaram o avião para realizar filmagens no Pantanal de Mato Grosso do Sul, segundo informou um produtor que trabalha com os documentaristas.
A aeronave que caiu não tinha autorização para oferecer serviços de táxi-aéreo, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Com isso, o piloto não poderia oferecer esse tipo de serviço.
🔎O que é táxi-aéreo: De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o táxi-aéreo é uma modalidade de transporte comercial de passageiros, em que o valor da viagem é combinado diretamente entre o cliente e o responsável pelo voo.
Morreram na queda Luiz Ferraz, sócio e documentarista da Olé Produções; Rubens Crispim Júnior, diretor de fotografia; o professor e arquiteto chinês Kongjian Yu, e o piloto Marcelo Pereira de Barros, dono do avião de pequeno porte que não conseguiu pousar na pista da Fazenda Barra Mansa, na zona rural de Aquidauana.
Quem eram os documentaristas mortos em queda de avião com arquiteto chinês no Pantanal
"O avião estava a serviço do transporte daquelas pessoas que iam fazer as filmagens", disse nesta quarta-feira (24) ao g1 Thomas Miguez, produtor-executivo, que busca informações sobre o valor acertado e como seria o pagamento. "Eu precisaria confirmar se quem ia pagar por esse serviço era o professor ou a própria empresa".
O Cessna Aircraft de 1958 não estava habilitado para realizar transporte comercial remunerado de passageiros ou cargas. Ele só poderia realizar voos particulares, mas os passageiros não foram informados. A aeronave tinha capacidade para quatro pessoas, incluindo o piloto.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e a Polícia Civil investigam as causas e eventuais responsabilidades pela queda do avião, que deixou quatro mortos.
Avião que caiu no Mato Grosso do Sul não tinha autorização da Anac para operar voos comerciais
Reproução/Divulgação/Anac
O documentário era produzido pela Olé Produções, empresa que tem como sócia Gal Buitoni, companheira de Luiz e produtora executiva. Rubens prestava serviços à produtora e era casado com a estilista Helo Faria. "Estão devastadas com a tragédia", informou Thomas sobre elas ainda não terem condições de falar com a imprensa.
A Olé e outra empresa chinesa estavam produzindo um filme, que tinha o título provisório de "Planeta Esponja", com Yu. O chinês é considerado um dos mais importantes arquitetos do mundo.
Ele dava aulas na Universidade de Pequim e era reconhecido internacionalmente pelo conceito de "cidades esponja". São conceitos inovadores da arquitetura moderna: a criação de municípios desenhados para absorver um grande volume de água dos rios e das chuvas. Evitando assim desastres ambientais.
Criador das 'cidades-esponja': quem era o arquiteto que morreu em acidente de avião em MS
Cidades-esponja: conheça conceito que usa ciência para prevenir tragédias como a do RS
"Originalmente é um filme brasileiro. Professor Yu estava muito parceiro e feliz", disse Thomas, que também era amigo dos documentaristas.
A ideia do filme surgiu em outubro do ano passado. Luiz e Gal foram à China, onde apresentaram o projeto para comissões de arquitetura e empreendedorismo sustentável. Em setembro, Yu veio por conta própria ao Brasil, para participar da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
Arquiteto chinês morto em acidente de avião foi uma das principais atrações na Bienal de Arquitetura de SP 2025
O arquiteto chinês Kongjian Yu, o documentarista Luiz Ferraz, o diretor de fotografia Rubens Crispim Jr. e o piloto Marcelo Pereira de Barros
Montagem/g1
"O Luiz teve a ideia para o filme. Era baseada no trabalho e conceitos do professor Yu, desse aspecto das cidades lidarem de maneira mais inteligente com os impactos das mudanças climáticas", afirmou Thomas.
Cineasta morto em acidente de avião no Pantanal é fundador da Confraria do Pasmado, um dos maiores blocos de carnaval de SP
Ao chegar ao país, o arquiteto quis conhecer alguns locais. "A viagem para o Pantanal foi ideia do próprio professor Yu. Era importante para o trabalho dele. Luiz ajudou a organizar essa viagem", contou o representante da empresa.
No último sábado (20), Luiz, Rubens, Yu e mais dois profissionais contratados pela Olé _um operador de som e um assistente de câmera _saíram em um voo comercial de São Paulo para Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. De lá, seguiram de carro até o Hotel na Fazenda Barra Mansa, em Aquidauana.
"A ideia era visitar a região por quatro dias e captar imagens para o documentário", falou Thomas.
Infográfico: veja como é o avião que caiu em MS
Arte g1
O local onde os destroços do avião e os ocupantes foram encontrados queimados fica a cerca de 1 quilômetro de distância da pista de pouso. "Os corpos estão aguardando coleta de DNA porque foram carbonizados. O IML[Instituto Médico Legal] de Campo Grande ia fazer [o exame]", segundo Thomas. "Não temos nem ideia de quando os corpos vão chegar em São Paulo."
Os dois profissionais que foram com as vítimas pela Olé para trabalhar no filme, entraram em contato com a empresa comunicando o acidente fatal. Coube a Olé avisar depois pessoas que trabalham com Yu na Universidade onde ele dava aulas na China para comunicar a morte dele.
"O trâmite do translado do corpo do professor para a China está em andamento e estamos em contato com autoridades consulares da China", disse Thomas.
O local da queda fica na área da Fazenda Barra Mansa, uma das locações da gravação da novela Pantanal, da TV Globo, e região turística conhecida por receber visitantes do Brasil e do exterior. O Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil foram ao local e confirmaram as quatro mortes.
Olé Produções divulgou nota de pesar sobre mortes de documentaristas e arquiteto
Reprodução/Arquivo pessoal
Por meio de nota divulgada em sua rede social, a Olé lamentou "profundamente o ocorrido e agradece as inúmeras mensagens de carinho e solidariedade recebidas neste momento de dor".
Os documentaristas já ganharam vários prêmios com vídeos documentários.
Cineasta foi indicado ao Emmy Internacional por série sobre tragédia da Chapecoense
